sexta-feira, 10 de abril de 2009

Escrever é meu maior vício.


Um dia me fizeram uma pergunta que se tornou imperiosa em minha vida. -Você consegue parar de escrever? E descobri que não. Tentei por diversas vezes, mas descobri que era mais fácil parar de respirar. Escrever é meu maior vício. Drummond dizia que a poesia era a sua cachaça. Descobri também que era a minha. Mas escrever por escrever, vai ficando muito sacal, os papéis vão se acumulando, você organiza por data de escritura, faz pastas e mais pastas, isto se avoluma de tal maneira que é necessário se fazer alguma coisa com aquilo. Primeiro pensei em tocar fogo, fazer uma auto inquisição. Danei a reler todo aquele material, apurar algumas coisas, reescrever outras, outras abandonar por completo. Foi assim que nasceu meu primeiro livro, uma antologia de mim mesmo, um apanhado de vários anos de poesia sem rumo e sem direção.

Como tinha algum dinheiro na época e experiência nenhuma nesta área, fiz um livro auto-financiado, um livro de autor que recebeu alguns elogios, apesar de alguns defeitos técnicos, é meu de capa a capa, tudo foi feito por mim, organização, correção, diagramação, desenho da capa, só não fiz a impressão. Apareceu uma oportunidade em mil, um camarada do Ceará me fez cada exemplar por R$ 0,88 (Oitenta e oito centavos), com frete e tudo. Recorri a um velho amigo para fazer o prefácio, e lá estava ele. Sob o título pomposo de “Poemas Do Século Passado – 1982-2000”, nascia minha primeira aventura solo.


De repente tinha mil exemplares de um livro, na verdade mil e duzentos, pois o impressor me deu um brinde, e não fazia a idéia do que fazer com aquilo. Na falta de uma idéia melhor, fui dando aos amigos de presente, vendia alguns aos que queriam ajudar de alguma forma, os levava a encontros com escritores e acabava usando o livro como cartão de visita, mandei para revistas literárias, a críticos, jornais, gastei uma nota com correio. Algumas pessoas foram muito generosas, e embora eu suspeite de alguns porque são também meus amigos, recebi alguns elogios, o jornalista e poeta Zanoto volta e meia publica os poemas deste livro em sua coluna de jornal, já me usou até como epígrafe de seus textos.


A crítica mais interessante veio do poeta e ensaísta Ricardo Alfaya, que não poupou elogios a minha capa, um trabalho em arte xerox, usando uma série de documentos velhos. Uma boa medida para saber se estamos velhos é só conferir quantos documentos acumulamos. Pois bem o Ricardo Alfaya, desvendou o livro pela capa, um rito de passagem para a vida adulta, nos meus trinta e oito anos, finalmente havia chegado à maturidade, e afastado os fantasmas dos poemas guardados com o livrinho de poemas.

(Mas ai, encontrei pela vida o poeta Cláudio Willer, que me envenenou com o surrealismo, o que dá uma outra história.)


Enfim me restam uns muito poucos livros comigo, posso dizer que sou um autor de um título esgotado.

(De vez em quando ele aparece em um sebo ali e acolá, me deixando muito orgulhoso de meu filhote, que é como chama seus novos livros a poeta Dalila Teles Veras.)

Um comentário:

Edson Bueno de Camargo disse...

O velho amigo que prefacio meu livro, foi o jornalista, contista e poeta, Aristides Theodoro.