segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sobre o texto “A Ascensão das oficinas literárias - ( Folha de S. Paulo) de ERNANE GUIMARÃES NETO - DA REDAÇÃO “




http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1756749

Recebi o material acima via e-mail do incansável Laérson Quaresma, trovador dos bons e que sempre tem uma novidade da Internet para mandar para os amigos. Achei o texto tão interessante que repassei à alguns amigos, entre eles o poeta Jorge de Barros que me respondeu com a seguinte provocação: Interessante mesmo... E aí, você concorda com essa profissionalização dos escritores? Não sei porque, mas isso me lembra o "1984" do Orwell, com aquelas máquinas de escrever romances...

A Escola por mais que se tente o contrário, quase sempre é um grande desestimulador da criatividade, escolas para escritores me remete a uma pasteurização, tudo funcionando igualzinho, em produção em série, "máquinas de escrever romances" como na novela 1984 de George Orwell, ou coisas mais terríveis ainda, máquinas de não escrever nada de nada. Modelos e mais modelos copiados, sem qualquer inventividade. Esta coisa de escola para escritores é coisa de americano do norte, daquela cultura anglo-wasp, auto imposta para alguns, imposta goela abaixo aos estrangeiros e povos submetidos como nós, onde tudo se remete ao trabalho, ao utilitarismo, ao mercantilismo, a valoração monetária. Eles inventaram o capitalismo e convenceram o mundo que ele é bom para todos. É uma herança do puritanismo que os próprios norte-americanos odeiam, mas da qual não conseguem se livrar.

O que me dói é ver brasileiros, filhos da criatividade ilimitada, da sobrevivência exacerbada, das adaptações técnicas que superam nossa falta de tecnologia de ponta, herdeiros do multiculturalismo e de Macunaima, "pagando o pau" para esta imitação da falta de ego, da transformação da vida social em coisas estandardizadas e com gosto de linha de produção, da aversão ao sexo das sociedades patriarcais calvinistas. Como se literatura e poesia pudessem ser comprimidas em uma fórmula. Em o “Arco e a Lira”, Octávio Paz fala da impossibilidade da reconstrução do poema, dado que seu projeto arquitetônico se esvaece quando pronto. Cada poema é único em si, e se não for, não terá como conter a poesia.

Sou um grande defensor das oficinas de criação literária pela possibilidade da rebeldia, do anarquismo, como espaço de convivência, como espaço de experimentação e de troca de idéias. Estou estudando Pedagogia para entender o fenômeno que é a escola e a educação. Mesmo dando oficinas de criação literária, nunca acreditei em se aprender criatividade, ou se ensinar como escrever, o que podemos é dar dicas de caminhos que já foram seguidos. Não existe maior fermento para a criação literária que a leitura contínua de tudo o que nos cai às mãos, de alta-literatura à receita de bolo. Criatividade é uma coisa que se tem, como ética e ou caráter, o que podemos fazer é estimulá-la. Resgatar o que a educação, que não é educação, massacra em nossas crianças. Sonho com o momento em que a aquisição de cultura e de conhecimento não sejam estranhas entre si.

A poesia felizmente é maior que tudo isso.

Um comentário:

Anderson Felix disse...

Caro Edson, Imagine que entrei em sala de aula ontem e me deparei com a seguinte inscrição no quadro: "Prova dia 14/09 sobre D. Casmurro".