terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Romper as fronteiras que estão dentro de seus corações.




Se tem uma coisa que me irrita profundamente, são críticas anônimas, ou  situações que quando sou atacado sem chance de defesa. Coloco meu nome em tudo que faço e escrevo, nem sempre estou certo, mas seja lá de quem esteja falando, este sempre terá a chance de retrucar, até mesmo de me fazer mudar de idéia, por que não. O anonimato é coisa de gente mesquinha, perigosa, ressentida, covarde,  desleal e fascista. Mesmo esta delação de criminosos, anônima ou premiada,  me põe um certo receio, embora plenamente justificável em determinadas situações, mesmo assim tem um potencial de revanchismo e vingança barata, típicos de sociedades totalitárias e reacionárias, a “caça as bruxas” medieval e o nazismo se deram nestas bases, não gosto de meu vizinho, denuncio-o como bruxo ou judeu.  Já ouvi casos de delação por tráfico de drogas feitas por um vizinho que não gostava do ensaio de uma banda de rock, demorou para os meninos explicarem que ali era uma casa e não uma “boca”, ficaram marcados pela violência policial e pelo preconceito que existe em certos círculos contra pessoas jovens.  O delator, este sim um criminoso, se safou por trás da garantia do anonimato.


Por que estou a escrever isto, aconteceu em um outro blogue, espaço de um grupo da cidade onde moro, ao qual pertenço, a Taba de corumbê -  (http://tabadecorumbe.blogspot.com)  ter recebido uma crítica anônima, que por um espírito democrático e muito ingênuo de minha parte, não foi moderado. Acontece que o “espírito livre”, abusou da cortesia e se transformou em um “espírito de porco”. Fazendo acusações caluniosas e utilizando de um linguagem chula e recheada de trocadilhos que insinuavam ou se utilizavam de calões. Percebe-se até uma certa erudição em tal pessoa, ou um conhecimento livresco, o que torna mais inefável ainda seu ato.


Por que é que quando alguém tenta fazer algo pela Cultura de uma cidade, logo aparece um crítico detrator? Passam-se anos e décadas que nada acontece, tudo é um silêncio de deserto. Começam e terminam mandatos que sequer apelam minimamente para a Cultura. Quando um grupo de pessoas se reúne em prol de uma causa comum, o sucesso pífio que conseguem, provoca inveja e ressentimento naqueles que por inércia, ficaram acomodados. Um atoleiro de injúrias difamatórias pode ser esperado.


Das coisas ditas nos comentários do blogue, que não apaguei e espero o cavalheirismo de uma assinatura, as que mais me deixaram triste foram três: “puxação de saco”, discursos laudatórios e politicagem ufanista.


Bem lhes digo, me chame por um palavrão, mas não me use a expressão “puxa saco”, dirigida à minha pessoa, para meus próximos detratores aqui vai uma grande dica, “puxa saco” e vagabundo são as piores ofensas que me podem ser feitas. Cresci em um ambiente de fábrica, meu pai é ainda peão, comecei a trabalhar em uma linha de produção quando não tinha barba ainda. Não se chama um trabalhador honesto de puxa saco, nem de brincadeira, quem gosta desta acunha são os “traíras”, os traidores que trabalhavam junto a nós, mas eram agentes do patrão. Faz muito tempo que não piso o chão de uma fábrica, o que me dá muitas saudades, mas a moral que se aprende ali, é para toda uma vida. Fui filiado ao sindicado antes de tirar o título de eleitor, que naquela época não valia nada mesmo.


Tenho negociado espaços para que o grupo se reúna, e isto infelizmente se tem que fazer com o poder público, ainda não tomamos o que é nosso por direito, então a democracia pede uma mediação. Isto não me torna um “puxa saco”, mas sim uma pessoa de estomago forte,  mas enquanto os “puros” se mantém à distancia, faço o meu papel. Considero o espaço público como espaço de todos, não vou me limitar à periferia, às favelas, às ocupações, odeio uma frase que ouvi na “Ópera da Terra Pilar”, uma peça de teatro realizada em minha cidade, “ a periferia é o nosso lugar”, o “escambáu”, todo o lugar é nosso lugar, que não venham nos limitar a guetos, pior não devemos nós, nos limitar a guetos. Quando falo que a Câmara Municipal é um espaço do “povo”, expressão tão amada da neo-esquerda, eu prefiro “pessoas”, como determina o Teixeira Coelho, é porque todo espaço público é de todas as pessoas, gostem ou não nossos edis e seus assessores, ou os “intelectualóides” que se proclamam livres das amarras governamentais, mas que se digladiam por qualquer vintém de verba pública para manter seus projetos nas periferias. Impedindo que crianças e adultos, pessoas livres, brasileiros de direito, se apropriem de todos os espaços públicos da cidade, Câmara, prefeitura, posto de saúde, escolas, anfiteatro, teatro, o átrio da igreja, calçadas, praças, ruas e qualquer área de circulação livre, todos estes espaço podem ser e devem ser usados na fruição da arte. O barracão na favela é um ótimo espaço, só não deve se limitar a isto, os alunos destes espaços devem ser preparados para ir além da fronteira da “Conúrbia”, devem ser preparados para romper as fronteiras que estão dentro de seus corações.


O que posso escrever sobre os “discursos laudatórios”, de fato existem pessoas no grupo com este péssimo hábito, mas em um universo de muitos, posso destacar duas pessoas, que têm em sua defesa o fato de serem pessoas de idade, com hábitos arraigados de elogiar as autoridades presentes, coisa de povos que passaram pela Santa Inquisição e que tem medo de desagradar às pessoas. Não se pode confundir uma espécie de educação cortês e burguesa, que todo o brasileiro tem,  mormente os mais velhos, com subserviência. Mais ainda, não confundir o hábito de uma pessoa, com o comportamento e a ação do grupo. É comum em toda a cerimônia, e determinados momentos, apresentar ao grupo as pessoas com alguma deferência.  Não tenho esta prática, mesmo porque sou filho da geração contestadora dos anos sessenta, que queria derrubar as prateleiras e proibir o proibir. Tenho uma dificuldade monstruosa de lidar com a autoridade. No entanto tenho percebido também, que atitude não pode ser falta de educação.


A expressão, “politicagem ufanista”, talvez seja a mais complicada, e demonstra todo o preconceito de classe por parte do comentarista anônimo, o grupo “Taba de Corumbê”, surgiu em uma oficina literária chamada “Oficina Aberta da Palavra”, idealizada pelo poeta Guilherme Vidotto Filho, inspirada em uma conversa com o escritor e dramaturgo Luís Alberto de Abreu; Vidotto escrevia poemas inspirados na história da cidade de Mauá, quando Abreu o conclamou a criar uma oficina onde se reuniria autores da cidade para escrever sobre ela. A oficina aconteceu em um momento sensível da história da cidade, onde tentava-se a todo custo recuperar-se a auto estima de seus moradores. Nasceu com a prerrogativa quixotesca sim, não ufanista, de encontrar a “alma” das pessoas, em um “inventário poético de Mauá”, é certo que como todo o plano utópico não passou de pretensão, no entanto extrapolou o conforto do espaço público e gerou um grupo de cidadãos interessados em cultura, são na maioria poetas, mas tem de tudo um pouco: de donas de casa, professores, artistas plásticos, entre outros, pessoas se agregam, pessoas vão embora, que é muito natural. Não escondo o fato para ninguém de que sou partidário, sou filiado ao Partido dos Trabalhadores desde sua fundação, apesar que algumas decepções de ordens diversas, continuo filiado, embora afastado das ações políticas à algum tempo. Isto é meu direito constitucional, todo cidadão brasileiro pode se filiar a um partido político, já fui jurado no tribunal, me alistei no Exército, trabalhei vários anos de graça para a Justiça Eleitoral, estou quites com a vida republicana. Ocupei também de 1997 a 2004 vários cargos comissionados, vindo a trabalhar na Secretaria Municipal de Cultura pela minha militância na área,  e não pelo contrário. Somente uma pessoa com dificuldade de discernimento mental, e ai me perdoem os doidos, para criar uma relação ao fato de eu ser um dos sete mil filiados ao PT em Mauá, e meu trabalho na literatura. Se gostar da cidade em que mora, das suas pessoas, e querer o melhor para ela é ser ufanista, o sou. Ao me acusar de politicagem,  pela minha condição de filiado a um partido político e apenas isso no momento, é preconceito. Decerto que Ginsberg, fala em “América” seu poema visceral, que “o poeta que se envolver em política, se tornará um mostro”, estou disposto a correr este risco como muitos outros antes de mim, ou como meu muito amado José Marti, que deixou de ser um grande poeta cubano para se tornar um herói nacional e dos povos latino-americanos, ou como Neruda, que carrega a crítica de ser um poeta menor por seu engajamento, mesmo com toda a sua popularidade.


Para arrematar sobre a afirmação: “em Mauá, há gente pensando em cultura e arte além de vocês”, posso dizer que fico muito feliz, quanto mais gente fazendo arte melhor, se tem gente fazendo melhor que a Taba, melhor ainda. Onde em que momento se afirmou o contrário? Não somos “chapa branca”, escrevemos poesia porque é o melhor que sabemos fazer, os grandes homens fazem grande coisas, aos poetas as pedras. Assim como Cassandra, veremos Tróia arder em nossos sonhos e ninguém nos acreditará. Este é nosso glorioso destino.


Quanto as acusações escritas em inglês colegial, de que somos provincianos, medievais, e vivemos na barra da “Família Real”, respondo que sou provinciano com o maior orgulho, como diziam Câmara Cascudo e Gilberto Freire,  temos o maior orgulho desta terra desolada pelo “milagre brasileiro”,  das pessoas migrantes e de sotaque carregado, faço poemas para minha cidade e para estas pessoas também, não tenho o menor constrangimento de dizer, sou de Mauá, em qualquer círculo que estiver. Minha província se chama mundo, e minha casa é onde eu puder morar.  Quanto ao medieval, não sei o que escrever, pois não entendi sua magnitude, talvez pelo hábito dos reis de abrigar artistas mambembes:  não, não sou um artista da corte, sou um bardo de estrada, cantor maltrapilho por um pão e um sorriso. Quanto ao viver às custas da família real, devo entender que é pelo fato que em alguns momentos termos nossas obras subsidiadas pelo FAC – Fundo de Assistência à Cultura de Mauá, que graça aos deuses perdeu este nome horroroso, com algumas migalhas que de vez em quando são jogadas aos pombos da arte. Sei de grupos dependurados na favela que vivem com dinheiro público federal, e não existe mal nenhum nisso.  Fosse eu amigo da família real não estaria desempregado a tanto tempo. Minha incapacidade de fazer coisas que minha ética não permite me deixou em maus lençóis muitas vezes, tanto quantos me amam, outros odeiam, e isso são coisas da vida. Fala da Taba ser desagregadora, mas isso me recuso a comentar tamanho o absurdo.


E quanta à esta conversinha de que o novo vem para substituir o velho, não esqueça que todos um dia envelhecem.



Menos a poesia claro, a poesia é sempre jovem e tem todas as idades do mundo.

Nenhum comentário: