quinta-feira, 25 de março de 2010

Só não peça que me cale.


"Calar de si mesmo, é humildade;
Calar os defeitos alheios, é caridade;
Calar palavras inúteis, é penitência ;
Calar nos momentos oportunos, é prudência;
Calar na dor, é heroísmo;
Calar a verdade, é omissão.

                                           São  Domingos."




(Esta imagem de São Domingos é de Fra Bartolomeo, do século XVI)






“Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.”

Cecília Meireles




Relutei um pouco antes de escrever este texto, pensei estar dando muita importância a quem não devia, não posso dar espaço a vazão irracional de um louco, ou me tornar refém de sua verborragia inconseqüente. Tenho por princípios, nunca ceder à chantagem. Já quase paguei com a vida por isto, fazer o quê, se não honramos mais nem os compromissos que tomamos com nós mesmos, o que vamos valer? Que fazer? Sou antigo em tudo, acredito até em honra.

Depois de várias mensagens de solidariedade, do meu mestre querido Cláudio Willer, de amigos, de pessoas que mal conheço pessoalmente (trocamos algumas palavras através de um e-mail ou comentários em textos um do outro, todos devidamente assinados, diga-se de passagem), que me foram muito gentis. Mas principalmente por conta de dois telefonemas do amigo, o jornalista e contista, Aristides Theodoro, que preocupado com minha tristeza,  me passou uma citação do crítico francês do século XIX, Saint-Beuve, sobre o crítico ser aquele  incapaz  de produzir. Resolvi escrever algo, nem que seja apenas como exorcismo. (Afinal, o bom exorcismo ainda é muito funcional, para espantar fantasmas e demônios.)

Não encontrei as palavras exatas de Saint-Beuve, mas creio que isto não importa muito, uma vez que não recebi críticas, mas ataques,  primeiro ao grupo a que pertenço, e depois com mais virulência, ataques à minha pessoa. Não vou dar conta do conteúdo destes ataques, uma vez que empenhei minha palavra com o agressor, que publicaria todos os seus comentários em meu blogue se este me der um nome que não seja de fantasia para assiná-los. Embora muito me doam as acusações feitas. Sou chamado de covarde, eu que estou as claras e desarmado, por aquele que das sombras me injuria.

Não sei lidar com estes conflitos. Não sei lidar com o ódio sem motivo aparente, nem o meu próprio ódio tolero. Aceito qualquer sentimento contra minha pessoa, desde que dito na minha cara, com todas as palavras, olho no olho. Não consigo levar a sério pessoas dissimuladas, ou que se escondem sob o véu do anonimato. É um pouco como pessoas que maltratam animais, mais cedo ou mais tarde, isto se revelará uma psicopatia. Não existem pequenos atos criminosos, crime é crime. Se não sou agredido diretamente e as claras, não há chance de defesa, fere-se o princípio da Constituição, a do contraditório, não há uma discussão, é um ataque linear, é unilateral. No livro do Apocalipse existe em algum lugar que estou com preguiça de procurar para citar com exatidão agora, que os cães e as cobras não entrarão no Reino dos Céus. Não acredito em reinos para depois da morte, mas gosto da simbologia que isto quer dar, o evangelista não fala dos animais da fauna, fala das pessoas que atacam pelas costas, dos que mordem nossos calcanhares na surdina e traição. O traidor pode ser aquele que come ao teu lado hoje, amanhã contando trinta dinheiros, rirá de tua sorte.

É tão difícil fazer algo pela cultura de nossa cidade, é uma realidade periférica, satélite de um grande centro, com uma formação proletária que dá muito pouco valor à coisas imateriais, pau é pau, pedra é pedra, pão é pão e poesia não se come. Em um grupo, além de lidar com a vaidade natural dos artistas, das idas e vindas do apoio oficial, da total falta de interesse da população em geral para com o que estamos fazendo, sobreviver é tudo o que fazemos bem. O teatro e a música, ainda conseguem ir um pouco mais adiante, por conta da fruição diferente que estas linguagens representam. A literatura é a prima pobre das artes, em um país que não é tradição ler, a poesia coitada, é a prima miserável. Se todos se unissem, coisa que não acredito possível, já seria muito complicado, lutando uns contra os outros fica muito pior.

Não sei o que fiz para gerar tanto ódio, tenho escritos meus poemas, e mostrado às pessoas, o que até onde sei não é crime, no muito, me tomam por um chato, um indesejável artista que teima em não ficar invisível. Lê quem quer, principalmente lê quem gosta, se lhe mando um e-mail, e não o quer receber mais, é simples, responda com este desejo, não mando mais. Não gosta da atuação de meu grupo, não nos acompanhe. Não quer ser meu amigo no Orkut,  delete o meu perfil de seus amigos.  Crê que cometemos algum crime, nos acuse formalmente, vá ao ministério público,  faça uma denúncia às autoridades competentes. Acha que o que fazemos é formal demais, que devíamos ganhar as ruas, faça algo por isso, vá para as ruas. Acredita que estamos longe do povo, lute por sua causa.  Não gosta da Câmara Municipal de Mauá ( Por quer será?), tome as praças. Falarei com aquele que quiser me ouvir, o padre e o ateu, o rico e o pobre, na rua, mansão, ou casebre. Só não tente nos conduzir, nos controlar, ser o fiel da balança, o juiz de todas as causas, como nos diz Patativa em sua grande sabedoria, “cante lá, que eu canto cá”.

Há poetas heróis como Roque Dalton  e Che Guevara, há poetas santos como o Gentileza, há poetas iluminados como Mário Quintana, há poetas ao gosto popular  como Vinícius de Morais, há poetas na música como Renato Russo, há poetas populares como Cego Aderaldo e meu grande amigo Moreira de Acopiara. E há o pó da sandália dos grandes poetas, não tenho tanta pretensão. Escrevo porque vou morrer, como afirma meu amigo, o poeta José Carlos Brandão. Somos todos patéticos diante da finitude e da precariedade da vida humana. Não importa o que pensem ou o que falem.


Escrevo poesia porque já não sei mais fazer outra coisa. Só não peça que me cale.

5 comentários:

Rosane Oliveira disse...

Edson, sou solidária a voce nesse momento e comungo dos teus pensamentos e da tua indignação.Desde que existimos, pagamos nossas contas e nao prejudicamos ninguém com nossas loucuras poéticas, então temos o direito de faze-las, de deistribui-las ou de vende-las...quem nao desejar ler por achar que perde tempo ou que faz mal a sua saude, então nao leia, nao abra o e.mail, delete, exploda...sei lá...o outro lado tem o direito de faze-lo, apenas nao tem o direito de pixar o nosso espaço com porcarias sem fundamentos ou provas e ainda anonimamente, sinonimo de covardia nua e crua...isso é triste!

josé geraldo neres disse...

Monte Castelo
Renato Russo
Composição: Renato Russo

Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.

É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal.
Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é o fogo que arde sem se ver.
É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer.

Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.

É um não querer mais que bem querer.
É solitário andar por entre a gente.
É um não contentar-se de contente.
É cuidar que se ganha em se perder.

É um estar-se preso por vontade.
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.

Estou acordado e todos dormem todos dormem todos dormem.
Agora vejo em parte. Mas então veremos face a face.

É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.

Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua do anjos, sem amor eu nada seria.

Jac disse...

Então é isso: não se cale!!! Siga escrevendo, sempre será bom, se não para todos, para alguns.
E, o mais importante, (tente, ao menos!!!) não se entristecer com essas coisas... sempre há pessoas que (não entendo o porquê!!!) fazem esse tipo de coisa. Mas também há tantos outros que gostamos de poder lê-lo, sempre!!!

Abraços com força para continuar na luta pela poesia da vida.

De quem, mesmo estando agora longe, está na mesma luta.

Sarah Helena disse...

o que eu mais gosto em vc é sua absoluta capacidade de transformar merda em beleza.

Eu sempre que vejo anônimos reclamando, penso na Raposa e nas Uvas. É fácil falar mal daquilo que vc é incapaz de alcançar.

Sabia que na escola estamos com problemas assim? "Pais" ligando anonimamente para reclamar da escola na DE... parece que onde quer que se tente fazer um bom trabalho, tem um imbecil falando bosta.

henrique pontes disse...

certos caras não morrem nunca.