quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Impressões sobre a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo




Lançar um livro na Bienal do livro é algo curioso. Estar em um ambiente que é estranho ao resto do mundo à sua volta, aqui são quase todos leitores ou curiosos. Os freqüentadores tem uma relação diferente e outra percepção quanto ao livro, difere da maioria das pessoas do país. Na Bienal, o livro, não é um corpo estranho, é a vedete. Nos nossos brasis afora, a leitura não é algo tão prioritário, as pessoas estão ocupadas em nascer e viver.

No entanto, um único livro some dentro de um mar de livros e estantes, é só mais um entre milhões, um título novo compete em grande desvantagem, mesmo não sendo o autor um estreante na literatura. Há livros para todas as atenções e gostos, de “a” a “z”, do sonho ao pesadelo, mas principalmente, há um pesado marketing editorial em processo, sentimos o peso da palavra indústria, é uma aldeia de grandes feras. As editoras estão ali não para vender o produto livro, somente, mas a sua marca, a sua fisionomia ( e capacidade de vender livros para o governo).

É uma grande vitrine, e senta-se o autor em lançamento em uma mesa em destaque no estande, com livros a mostra, crachá com a palavra autor no peito. Fica-se a mostra como em um micro-zoológico, “nossa então esse é o tal do autor”, “ você escreve só poesia ou faz literatura também”, sorrimos simpaticamente, convidamos a pessoa a se aproximar, falamos do livro, do fato do autor ser uma pessoa comum ao mundo dos humanos, mas há tanta coisa a ser olhada e vista, que logo deixamos de despertar interesse, não somos necessariamente um bom produto, nossa embalagem velha e enferrujada não atrai todos os bons olhos. Muitos estudantes do fundamental circulam pelos estandes, história em quadrinhos e livros de terror e vampiros, são muito interessantes.

Ali naquele momento o autor pouco conhecido do público, acaba sendo tão comum como os livros vendidos, um pelo outro, só pela capa, são todos iguais, livros são livros, todos são poetas, todos são profetas do apocalipse, profetas da chuva, etc. Somente os grandes fundamentados na mídia tem seus momentos de glória, comediantes, humoristas de stand-up, um ator global que lançou um livro, o onipresente autor de best-sellers, o colunista do jornal tal, a cantora ou cantor de rock, a prostituta aposentada, mas ainda jovem. No mais, somos todos muitos autores em busca de um pouco de atenção, mendigos de ávidos leitores, nosso pregão é a palavra e o que buscamos, os leitores, mesmo neste mar de livros, é mercadoria rara.

Um ou outro pega o livro, folheia, elogia a capa, lê coisa ou outra, e logo passa para o próximo estande, há muitos para olhar. Além do que, ali na esquina tem uma livraria que está queimando o estoque, dois por um. Na outra tem apresentação de circo, e atores palhaços tentam desesperadamente, manter a atenção das crianças.

A poesia já é uma órfã estilhaçada no mundo dos leitores assíduos e acadêmicos, aqui fica a deriva em um mar de títulos e tratados, uma garrafa de náufrago com mensagem dentro que foi enterrada pela maré. Mesmo grandes poetas não tem muito espaço nas estantes, imagine um poeta suburbano, laçando um livro por uma editora carioca. Mas meus poemas estão bem alojados dentro do livro, e como já me disse Cláudio Willer, livros têm mais fôlego do que parece, viajam de mão em mão, vão até onde nem podemos imaginar, e pasmem são lidos.

No geral foi bom, me diverti bastante, conheci novos amigos, reforcei velhas amizades, comprei livros infantis para meu neto, mais um que está perdido no mundo das palavras. Faz muito bem ao ego, vou poder dizer para o resto de minha vida que lancei um livro na 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. No fim, só nos restarão lembranças mesmo, e nossas histórias vão ficando melhores e melhores com o tempo, pois a idade nos põe a lembrar de coisas que não aconteceram, e roubar memórias alheias, a narrativa fica muito mais rica.

De resto, fica a sensação peculiar, que soltei barcos de papel em um porto muito grande, em meio a transatlânticos fundeados.


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